sábado, 7 de novembro de 2009

VENDERAM o REZINHA....FORAM-SE AS ESPERANÇAS....


Delfino e Albino no PP-RZA do ACJ, Anos 70.







1ª aparição, o PP-RZA, sobrevoando a Festa de C.Christ em Matão-SP,fim dos Anos 60, e Delfino no ACJ..

Outubro de 2.009, venderam o PP-RZA e com ele foram-se as esperanças... O começo do fim do ACJ- Aéro Clube de Jaboticabal(SP) que sucumbiu em uma administração patriarcal mal conduzida. O Dr. Algodoal, seu fundador, revirou-se no seu túmulo, quando soube dessa triste noticia. E que noticia pra lá de triste essa.
Um Aéro Clube construído por um idealista, o qual formou centenas de alunos durante a sua pródiga existência acabou no nada, pelos seus filhos ingratos que assim desejaram entregando a luta, sem deixar outros integrarem o Front de Batalha. Filhos esses, que desfrutaram garbosamente desse Piperzinho J-3, professor primários dos doutorados aviadores de hoje em dia. Abandonado ao acaso, sem que alguém, algum dos seus dirigentes o conduzisse à recuperação. A venda foi o caminho mais fácil, mas não foi a forma correta de se conduzir uma entidade publica administrada por 4 ou 5 elementos sem amor nos corações, sem sentimentos. A alguns anos esse Aéro Clube, porta de partida para a minha carreira, acabou-se amargando em um grave acidente em que perdeu uma das suas duas ultimas aeronaves, o Piper Cherokee-180D,1973, o PT-IBI, com perda total, mas graças a Deus sem vitimas fatais. Restou então o famoso e heróico Piper J-3C, o PP-RZA, carinhosamente batizado de "Rezinha" que precisava de uma revisão geral e estava encostado, abandonado no fundo de um velho hangar, nas instalações do aeródromo SDJC em Jaboticabal-SP.
A crise da aviação atingiu todos os Aéro Clubes do Brasil, mas os fortes sobreviveram, enquanto alguns pereceram na penumbra, sem esperança de recuperação num mergulho sem volta, direto para o fim. Fiquei realmente triste com essa noticia. Tive amor por todos os aviões que passaram pela minha vida e esse foi um dos grandes amores. Sobrevivi um período da minha existência, dando instrução nessa aeronave, formando dezenas de pilotos, enquanto dele retirei parte do sustento da minha familia como Instrutor de Vôo do ACJ.
Conheci o PP-RZA nos anos 60, quando ainda garoto cheio de sonhos. Estava com minha mãe e minha irmã Bete em Matão-SP, durante a data de Corphus Christ. Era uma grande festa e tradição até hoje na cidade. Estávamos na praça principal em frente a Igreja da Matriz, quando um lindo Piperzinho garbosamente sobrevoava a cidade, panoramicamente apreciando lá de cima as ruas enfeitadas para a procissão no final da tarde daquele dia de sol. Onde os fieis, curiosos e turistas estavam reunidos para o evento. Entre as árvores consegui registrar o voo do PP-RZA com minha câmara fotográfica B&Preto FLIKA. Fiquei sabendo que a aeronave, a qual futuramente seria vendida ao ACJ, operava desde uma pista na cidade vizinha de Dobrada-SP no sitio de um dos seus proprietários na entrada da cidade, Cmte. Alberto Macek, o famoso aviador "Galego".
O tempo foi passando e eu como assíduo frequentador de fins de semana no ACJ, acabei vendo definitivamente o RZA por lá. Durante os anos que se seguiram, mudou de cor varias vezes. Foi branco, azul,verde amarelo/ouro original e finalmente branco/ vermelho estilo PA-18, seu irmão mais novo.
A recente venda dessa ultima aeronave encerra as portas de uma das mais antigas instituições de formação de alunos no interior de São Paulo, onde o atual Presidente da entidade tem planos de comprar dois ultraleves basicos de baixo custo, para formação de Pilotos Desportivos (CPD), voltando aos primórdios da aviação. Final triste, Aéro Clube sem aeronaves, pista de pouso interditada, falta de dinheiro, falta de boa vontade, o COMEÇO DO FIM chegou e com ele foram-se as esperanças.
Isso fez-me recordar da minha infância, onde algo semelhante aconteceu com a Ferrovia que cruzava minha cidade Natal, essa mesma Jaboticabal dos meus sonhos, dos meus amores, das minhas aventuras e das minhas doces lembranças da meninice:
Boas lembranças daquela época em que convivi com meu avô. Certa vez estava com ele na antiga Estação Ferroviária da cidade, onde esporadicamente íamos buscar uma ou duas cartola de vinho que vinham da Itália, mandadas por sua irmã que lá residia. Nesse dia, percebi pelo acumulo elevado de pessoas e veículos que estava para acontecer algo importante na estação de trem. Mal havíamos embarcado na carroça do meu avô as barricas de vinho, um som ecoou no ar como turbilhão. Acabava de chegar e pousou no pátio da estação, na "Praça do Café", um helicóptero Bell-47, conhecido como Bolha Assassina, desembarcando o então governador de São Paulo, Sr. Carvalho Pinto, que estava ali para anunciar a retirada dos trilhos antigos da ferrovia e a instalação imediata da Bitola Larga que daria maior progresso a cidade e região, com locomotivas diesel/elétricas, as quais só chegavam até Rincão (SP) e Araraquara (SP). Antes tivesse ficado a velha Maria Fumaça e a Bitola Estreita que tinha um glamour acima do comum e dava vida a cidade, contribuindo para o progresso.Presenciei o aplauso dos mais velhos e dos políticos que ali estavam presentes. Entre o publico, que eram na sua maioria, moradores da cidade recordo-me que meu avô,imigrante italiano, homem culto e bastante viajado, disse a alguém naquele momento, que não acreditava no fato e até ficou revoltado. Senti no seu semblante que ele ficou triste e nunca me esqueci das suas palavras, dizendo que “aquilo era o Começo do Fim”. Muito mais tarde, quando já estava no colégio vim, a saber, que tal anseio não virou em nada. Os trilhos sumiram, os moradores vizinhos ao leito da ferrovia invadiram o espaço deixado por eles ,ampliando suas casas e aumentando os seus territórios de domínio no lugar onde o progresso havia escoado por longos anos. Jaboticabal parou no tempo e com a venda do "Rezinha", hoje o ACJ também para no tempo...
Muitos irão ainda sentir falta desse J-3, mas será tarde demais. Afinal ele acabou de partir sem vontade, mas obrigado a viver em outro hangar cheio de tristeza, por que poucos sabem, mas os aviões tem sentimentos como nós homens de bem.

Um comentário:

  1. ROBERTO DELLA LÍBERA29 de abril de 2010 às 23:53

    DELFINO,VC ME CONHEÇE DESDE QUE EU ERA PEQUENO, EU TENHO ADMIRAÇAO E RESPEITO POR VC, COMO PILOTO, PESSOA ( NA MINHA OPINIAO UM DOS MELHORES PILOTOS QUE JÁ CONHECI ),MAS EU NAO CONCORDO C/ VC NO QUE VC CITA A VENDA DO REZINHA, E UMA ADMINISTRAÇAO PATRIARCAL MAL CONDUZIDA, E QUE ESTÁ NO FIM, VC ESTÁ ENGANADO.POIS VC NAO SABE COMO É DIFICIL ADMINISTRAR O AEROCLUBE, TALVEZ C/ MENOS DE QUATRO PESSOAS, SÓ QUEM ESTÁ LÁ SABE DO QUE ESTOU FALANDO.NÓS ESTAMOS DE PORTAS ABERTAS P/ QUEM QUIZER AJUDAR. EU SEMPRE FUI CONTRA A VENDA DO REZINHA, MAS C/ O PASSAR DOS TEMPOS, CHEGUEI A CONCLUSAO QUE SERIA BOM VENDER O REZINHA E COMPRAR QUATRO ULTRALEVE, E VAMOS COMPRAR MAIS UM, E UM TRATOR TOBATA P/ CORTAR A GRAMA DO AEROPORTO INTEIRO, INCLUSIVE EM VOLTA DO SEU FUTURO HANGAR. OS ULTRALEVES ESTAO VOANDO E TRAZENDO MOVIMENTO NO AEROPORTO, NOS FINAIS DE SEMANA E FERIADOS, E O AEROCLUBE ESTÁ FATURANDO C/ ESSES VOOS, E ANTES NAO, VC MESMO PRESENCIOU ISTO. UM GRANDE ABRAÇO DO SEU AMIGO ROBERTO DELLA LÍBERA.

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