Cada qual teve uma infância, uma meninice e uma juventude. As famílias
eram unidas. Havia muitas dificuldades, mas ao mesmo tempo, muita amizade,
muito amor. Acredito que todos tiveram de uma ou de outra maneira bons momentos
dessa época, que merecem serem recordados. Pena que alguns protagonistas dessas
lindas histórias não mais estejam entre nós, mas as doces e memoráveis
lembranças daqueles áureos tempos ficaram para sempre em nossas memórias. O
tempo voou muito rápido, cada um cumpriu o seu papel nessa vida, mas os anos
que foram chegando de mansinho acabaram levando-os. Assim é a vida. Dura
realidade do tempo, cujo amadurecimento leva ao envelhecimento. Esquecimento
jamais. Devem ser relembrados sempre, pois se não tivesse existido o passado,
não haveria o presente. Outro aspecto impar é resgatar parte disso tudo, quando
isso faz bem para nós.
Boas lembranças, bons momentos. Assim foi minha vida praticamente
vivida na inesquecível “CIDADE DAS ROSAS”, Jaboticabal-SP dos meus sonhos, das
minhas memoráveis recordações, onde um dia ainda espero retornar para viver ao
lado dos meus verdadeiros amigos, os quais tem a felicidade de continuar ali
vivendo.
Naquela época, anos 60, anualmente nos fins de ano nossas famílias se
uniam para comemorar as saudades. Italianos por parte de mãe e portugueses por
parte de pai se juntavam entre falatórios altos, discussões, abraços e muita
comilança. Adorava esses momentos, pois podia rever e brincar com a primaiada.
Parentes vinham da Capital São Paulo-SP e já era costume naquela época os
pic-nic familiares. A reunião familiar acontecia geralmente na Fazenda do Primo
Mialichi, localizada na saída da cidade pela rodovia Carlos Tonani com acesso
para Barrinha-SP/R.Preto-SP, onde passávamos também boa parte das nossas férias
e onde íamos muitos finais de semana. O
Primo Mialichi e Dona Sebastiana eram pais da Ermínia, além de serem Padrinhos
de batizado da minha irmã Bete. Sempre consideramos a Ermínia como uma prima,
mas não era, porém gostávamos muito dela. A vida é incrivelmente cheia de
surpresas. Quando venderam a Fazenda e vieram morar na cidade, acabaram
residindo em frente nossa casa na Rua Juca Quito, o que acabou estreitando
ainda mais os nossos laços de amizade.
Férias de julho, praia, Santos e Guarujá na Pensão do alemão parente
dos nossos vizinhos, Sr. ECKES. As grandes quermesses da igrejinha do Canadá
entre outros passeios e as musicas inocentes daquela época no coreto, os
almoços de domingo com a família reunida foram bons momentos que guardo nas
minhas lembranças. Tudo isso vem a minha mente quando alguém fala de
Jaboticabal-SP.
Minha querida mãe italianíssima ria muito dos portugueses quando
vinham para o interior passar as festas conosco. Eles eram mais práticos e acho
que até mais inteligentes que nós. Não gostavam muito de cozinhar, mas antes de
deixar a capital de trem ou de ônibus, passavam pelo Mercadão e traziam
verdadeiros queijos, bons vinhos, azeitonas, presuntos de Parma, salames e
outras especiarias. Nunca vinham de mão abanando e participavam com muita
alegria dos pic- nic. Eram criativos e muito divertidos, apesar de outras
origens deixaram muita saudade.
Alguns dos meus amigos acham bobagem relembrar o passado, mas
contrario ao que eles pensam eu adoro recordar os bons momentos da minha vida,
da minha família e dos meus amigos. Acho pecado jogarem fora as antigas fotos
P&B da família. Afinal, todas as famílias escreveram uma historia cujo
legado não pode ser destruído. Essas preciosidades do lar registradas deveriam
ser divulgadas de uma forma ou de outra. É a essência da historia que não pode
ser destruída, um tesouro que não pode ser jogado fora. Certamente toda casa
tem um velho baú onde ficam muitas vezes esquecidas essas preciosidades.
Afinal, o tempo passa, mas a imagem retratada fica em uma serie de quadros
pelos quais circulam a essência real da história. Sem a fotografia como
elemento não haveria história e seria difícil penetrar nesses ambientes e ver
como eram as coisas. Possivelmente só a imaginação seria uma banalidade na
esperança de adivinhar o passado pelos vestígios. As fotos retratam para nós
atentos observadores essas existências autenticas e devem ser preservadas. Não
é casual, portanto, que muitos escritores se inspiraram nas antigas fotos de um
passado marcante produzindo verdadeiras crônicas, contos ou mesmo grandes
livros.
Há alguns meses faleceram os últimos primos da minha mãe, o Alberto
Rossi e a Zilá. Não tinham herdeiros e tudo foi distribuído entre três pessoas.
Uma das beneficiadas foi uma das minhas irmãs. Antes de eles falecerem fiz um
pedido. Gostaria de ficar com os álbuns de fotografias que preservaram com
carinho e capricho por longos anos, registrando os grandes momentos da vida do
eterno apaixonado casal, já que seria certamente jogado fora, pois ninguém
tinha interesse naquilo. Para mim o valor incalculável desse álbum era maior
que os bens que deixaram e eu acho que ganhei um Tesouro. Estou preservando a
historia e assim que tiver algum tempo vou escrever e retratar aquelas
belíssimas, preciosas e históricas fotografias.
Por si só os almoços de domingo eram memoráveis. As famílias italianas
mantinham suas origens em preparar a comida, fazendo verdadeiras estripulias na
cozinha com farinha por todos os lados, criando preciosas guloseimas. Não
faltavam as massas, o próprio macarrão, o nhoque, as porpetas de carne, as
bracholas, o capeleti, os antepastos, as bruschettas, os queijos, os
fettuccines e seus irmãos: tagliarini, cappelletti, rigatone, lasanha da mama,
pizza, ravioli, rondelli, risoto, verdadeiras saladas, ou simplesmente um arroz
à toscana ou um tagliarini à carbonara ou uma polenta, etc...Não faltava um bom
vinho tinto para os mais velhos e para nós crianças as gasosas e os refrescos
coloridos.
Os domingos eram sagrados. Antes do almoço tínhamos que ir a missa, mas
a recompensa pela comida que nos esperava valia a pena. Hoje não existe mais
nada disso. Só o saudosismo e as doces lembranças. Acho que a vida agitada faz
com que as pessoas não tenham mais tempo. As famílias não mais se reúnem domingueiramente.
Aquela alegria contagiante demonstrada em vozeirão com a troca de experiências na
culinária perdeu o sentido, pois graças à evolução e a tecnologia temos tudo
pronto, basta ter dinheiro. E por falar em dinheiro, veio-me a mente o que os
meus antepassados italianos conseguiram me passar de bom.
Aprendi com eles que o dinheiro se ganha e se
perde e se ganha de novo, mas a honra e a ética quando se perde não se ganha
nunca mais. Esse mesmo ensinamento tento
passar para os meus filhos adolescentes cabeça dura, pois se foi bom para mim,
certamente será para eles.
Mês passado, sofri um pequeno acidente domestico por imprudência,
danificando parcialmente o trem de pouso esquerdo com um traumatismo e acabei
ficando de molho em casa, resguardando e esperando a lenta recuperação. Assim
aproveitei para revivar o meu velho baú de fotografias e escrever esse texto.
Consegui caçar no fundo do Baú da História, as fotos daquele tempo
feitas na fazenda que servem para ilustrar e iluminar a memória. Italianos e
Portugueses juntos, muita festa, muita confraternização, muita alegria...
Momentos que se foram suavemente e não voltam mais...Valeu a pena ter nascido
nesse lar, nesse Jardim florido chamado “Cidade das Rosas” para onde um dia
ainda pretendo voltar... Andei bastante nesses 40 anos de aviação, mas acho que
ali é meu lugar... Amigos me aguardem!
O PIC-NIC foi bom, mas a volta é que foi tão triste....