É
muito bom a gente tirar pelo menos um dia na vida para reflexão, e se possível
até mais. Foi o que fiz ontem. Desliguei-me de tudo, esquecendo as perdas e os
ganhos, pois entendo que maturidade e velhice é a síntese da transformação
humana. Logo na infância aprendemos com nossos pais que o tempo passa e devemos
aproveitar esse tempo, pois virão as obrigações e os deveres. E para isso
devemos estar preparados, dispostos a encarar a nossa existência como um todo.
Existir no tempo é uma verdadeira corrida maluca na procura dos nossos ideais
com as nossas realizações, nossos fracassos.
Nossos
acertos, nossos erros são consequência da vida, onde as palavras significam
emoção e conceitos. Palavras gasta-se como pedras nas intempéries, que como o
tempo muda de forma e significado. Vivendo numa época de grandes emoções e
desejos, por vocação e encantamento escolhi a profissão de aviador nesse céu
azul cheio de surpresas, onde tem lugar para todos apesar da incompreensão de
certos homens.
Como
sempre bastante animado e feliz com a vida que levo, levantei-me cedo ao som
dos cantos dos pássaros que vem todas as manhãs alegrarem meus dias. Não é um
rouxinol, mas dois bem te vi que me acorda banhando-se na piscina transmitindo
um bom dia. Se o pássaro é feliz, também sou feliz, apesar dos problemas
cotidianos.
Conforme acordo familiar
estava disposto a realizar nesse dia um passeio descompromissado pelo céu,
sozinho, sem destino, sem rumo, curtindo apenas a nostalgia de um voo ao sabor
do vento com o meu velho companheiro Piperzinho J-3. O J-3 e o Grumman AA-5
Traveler são dois companheiros, grandes amores da minha vida.
São
puros e verdadeiros amigos alados que me proporcionam emoção e alegria, pois
consigo com eles desligar-me do mundo problemático à minha volta e mergulhar
num tempo mais sereno, de uma beleza diferente. Posso mudar de rumo, ir aonde
quero e ser feliz. Na juventude fomos aprendizes, com a idade e a experiência
adquirida somos os mestres e guiamos nossos próprios destinos. Acredito que
viver, sem se queixar da sorte é o mais profundo sentimento de felicidade.
Onde
vivo a região é linda e maravilhosa cheia de encantamentos. Chegando ao Hangar
Delfi’s preparei meu Piperzinho até sorriu para mim. Sentiu que iríamos partir para
um novo dia de aventura. Nos meus planos estava visitar alguns amigos aviadores
próximos.
Como
o aeródromo publico de Jaboticabal-SP/SDJC continua interditado combinei com o
Cmte. Mauro Moreira o pouso na Chácara Serradinho, SDXE no setor Oeste da
cidade, onde ele estaria me esperando de carro.
Em
voo solo mantendo 1.000 Ft/AGL, curtindo a linda manhã de sol com pouco vento,
navegando com a porta aberta da aeronave lá cheguei. Deixamos o J-3 ali e fomos
de carro ver as obras da área de lazer do Hangar Mauro & Caio em SDJC. Sem
escapatória e sem desculpas acabei ficando para o almoço na residência do
amigo, na companhia da sua esposa que nos preparou uma deliciosa refeição.
Conversamos bastante, trocamos ideias e falamos dos nossos planos futuros. Foi
muito bom estar descontraidamente com esse simpático casal de amigos.
Após
o cafezinho expresso que eles sabem o quanto adoro, quase não consigo escapar
do convite para ficar, mas dei uma de cachorro magro. Barriga cheia, o homem alado
nesse dia, além de fazer o Cmte. Mauro suar a camisa para dar hélice no J-3,
partiu agradecido e plenamente realizado para mais um pouco de voo pela região
nesse passeio aéreo. Decolei dali às 14h30min horas com destino a Monte
Alto-SP/SDMO, 18 km distante, aonde planejava passar algumas horas proseando
com o amigo aviador aventureiro Celso Calegari, construtor de aeronaves. Lá
chegando observei que o aeródromo estava silencioso, os hangares fechados. Nem
uma viva alma no Campo de Aviação.
Aproveitei
para fazer alguns sobrevoos curtindo a linda paisagem da serra próxima a pista
de pouso, mergulhando no imenso vale onde se acredita que viveram alguns
Dinossauros, para apreciar a curiosa cachoeira que derrama ha milhares de anos
suas águas pela fenda das gigantescas pedras.
Essa
é a ligação amorosa do voo, a possibilidade de ver coisas que os homens que não
voam não sabem a essência e a magnitude desses momentos mágicos e cheios de
emoção. Somente nós Aventureiros do Ar e os pássaros podem atestar essa
magnitude.
Agradeço
a Deus e a todos aqueles que me proporcionaram tantas oportunidades durante
todo meu caminho até hoje, para conseguir minhas asas e com ela ter voado
durante tanto tempo por lugares tão longínquos aonde só vai o avião e o
pensamento consegue chegar. Após uma
arremetida segura retornei para SDLY. No meu Hangar Delfi’s o outro amigo, o
Grumman-AA5 me aguardava ansiosamente.
Bons
momentos, excelentes voos, mas ágora o tempo é outro. É hora de partir para
novas descobertas, nova empreitada, com o coração cheio de alegria pelo o que o
voo em si nos proporciona.
A despedida do dia foi um
beijo de agradecimento no spiner de cada um, acariciando suas hélices, deixando
a esperança de novas aventuras aéreas..