Era
feriado, 07 de setembro de 2015. O tempo não andou muito bom desde as primeiras
horas da amanhã. Chuvoso, pálido e muito frio, para um dia que prometia algumas
aberturas de sol com precipitações leves e intermitentes durante o período. E realmente não foi
muito diferente das diversas previsões meteorológicas. Aproveitando o feriado prolongado resolvemos ficar no Hangar Delfi’s em
Matão-SP, curtindo um bom churrasco com os amigos e umas cervejinhas gelada.
Por volta da hora do almoço, o tempo estava
fechado, com teto baixo, porém com boa visibilidade horizontal e eis que surge
uma aeronave por entre os bancos de nuvens, fugindo do mau tempo que reinava no
setor sul da cidade.O primeiro desafio foi pousar em SDLY/Aeródromo Municipal Armando Nataly, escolhido como alternativa onde temos um pequeno condomínio aeronáutico, com alguns hangares. Haviam tentado pouso em SBAQ/Aeroporto Estadual Bartholomeu de Gusmão em Araraquara-SP, onde o tempo naquele momento estava pior, com muita precipitação e sem condições de pouso visual.
Estávamos começando o almoço com uma galinhada com pequi estilo goiano, já que no domingo (06-SET) foi full churrasco e ninguém aguentava mais, quando nossos inesperados visitantes do céu, chegaram para nossa alegria. Escolheram Matão/SDLY enquanto o tempo continuava fechado no caminho deles, com destino a São Paulo-SP, Campo de Marte/SBMT onde estão baseados.
Vinham de um passeio de Fernandópolis/SDFD,
e por força do destino encontram a gente em SDLY, após tentar pouso na Morada do
Sol onde não havia condições naquele momento. Aproveitaram para consultar as condições
meteorológicas da rota no nosso computador e curtir alguns momentos com a
gente, arriscando alguns garfos do estranho rango e estudando o momento exato
de decolar para o destino final daquela viagem tumultuada.
O mais interessante da história é
que para minha surpresa, o avião deles, um Piper Cherokee-140, o PT-CON dos
anos 60 descortinava diante dos meus olhos, reformadinho e em folha, com
roupagem nova e bem cuidado. Emocionei-me ao ver o PT-CON que
foi da minha querida Cidade Natal, a “CIDADE DAS ROSAS”, a minha amada
Jaboticabal-SP de muitas aventuras, de memoráveis momentos da minha vida e dos
meus queridos e inesquecíveis amigos da infância
, meninice e juventude. Eu tinha alguns 12 a 14 anos, quando ao contrario da
vontade dos meus pais, arriscava uma escapada até ao Campo de Aviação para ver
os aviões de perto. Só conhecia os barulhentos bimotores Douglas DC-3 comerciais e os inesquecíveis North American T-6 Texan, que sobrevoavam a
cidade, oriundos da Escola de Aviação de Pirassununga-SP, antecessora da AFA-
Academia da Força Aérea de hoje.
Para
um garoto daquela época tão remota o avião era o Maximo, principalmente quando nossa vocação estava voltada para
eles.
Nos
áureos anos 60, industriais, comerciantes e fazendeiros bem sucedidos da cidade compraram
alguns Piper Cherokee-140: O PT-DDW
da Sociedade ACJ- Aero Clube de Jaboticabal-SP, o PT-CIS dos irmão Ovilson Carnio Sobrinho e João Batista Carnio
Sobrinho (João Monarca), o PT-CLP do
piloto e fazendeiro Alberto Macek de Dobrada-SP e o PT-CON do João Dela Libera . Muito unidos os aviadores daquele tempo
faziam e participavam de muitas revoadas com seus aviões em pleno auge e plena
exuberância da sua mocidade naquela época. Nós garotos éramos ídolos dessa turma amigável do Campo de Aviação,
receptiva e carinhosa, que acreditavam na nossa safra junior’s e futuros aviadores. Eramos nós sapo de hangar..... Rsssssssss
Quantas
e quantas vezes voamos com eles, mas nunca sem antes ajudar a lavar o hangar ou
o avião, ou molhar as arvores que plantaram por todo o Campo de Aviação. Eram
pilotos responsáveis, enérgicos e nos ensinaram os primeiros Be a Ba da aviação.
Desde
pequeno, amante da fotografia, dote adquirido da minha mãe que além de fotografar
adorava escrever, passei a registrar momentos
inesquecíveis dos aviões e dos aviadores daquela época com minha maquina
fotográfica Flika, película Preto&Branco. Nessa explorada registrei os
aviões e entre eles o PT-CON novinho em
folha, recém-chegado dos States se não me engano em 1966. Segundo a grande venda desse tipo de
aeronaves naquela época pelo Jeremias, acabou tornando-se o representante até
hoje da marca PIPER AIRCRAFT no Brasil. Família tradicional entre outras
que se despontavam naquele época na querida “CIDADE
DAS ROSAS”, galgado mérito ao seu filho pioneiro e arrojado aviador e
empreendedor Jeremias de Paula Martins,
carinhosamente chamado por nós Jaboticabalenses de “NETINHO” , decolou a marca PIPER no Brasil, com essa dezena e dezenas de vendas desses aviões.
Comandantes do PT-CON
Os
corajosos aviadores daquela época em plenos anos 60, com seus Piper
Cherokees-140 novinhos se aventuraram pelo Pantanal, além de voar e desbravar
suas fazendas em rincões longínquos. Voaram em formação até ASSUNÇÃO no
Paraguai com os quatro aviões: PT-DDW, PT-CON
,PT-CIS, PT-CLP
em uma expedição aérea liderada pelo pioneiro
Instrutor do ACJ naquela época, Ernesto Elvino Biancardi que depois de
muitos anos se tornou um dos meus instrutores de voo no extinto Curso de Piloto
Agrícola do CENEA na Fazenda Ipanema em
Iperó-SP, do Ministério da Agricultura e Aeronáutica, em 1979.
Foto história antes da decolagem de Jaboticabal-SP, da Esquadrilha de Cherokees-140 rumo a Assunção no Paraguai: PT-CIS, PT-CLP,PT-DDW,PT-CON na sequencia e os arrojados aviadores do ACJ- Aéro Clube de Jaboticabal-SP
Os aviadores do ACJ no aeroporto Presidente Strosner em Assunção- Paraguai.Aviadores Jaboticabalenses em Assunção - Paraguai.
O PT-DDW do ACJ deu perda
total em um grave acidente, tendo mergulhado nas águas da represa da Usina São
Martinho em Pradópolis, ceifando a vida do nosso amigo pára-quedista e aviador BETO MERENDA. Os anos se passaram, os demais foram vendidos e não sei o paradeiro
deles, mas a alegria de rever inesperadamente o PT-CON por acaso do destino
nesse dia 07 de Setembro me emocionou muito! Fiquei deveras feliz. Acho
que mais feliz do que seus proprietários de hoje que não conheciam sua história
e sua origem, os quais nos visitaram e como nada é por acaso, acredito que foi
a força do destino. Foi um presente do céu....
POF, BETTY e um dos aviadores do PT-CON visitante.Graças à amabilidade dos seus donos consegui voltar no tempo e curtir alguns momentos na cabine de comando do glorioso Piper, antes de decolarem para seu ninho em SBMT. Voltei aos meus tempos de menino, mergulhei no passado, onde fiz alguns voos com o velho amigo aviador pioneiro João Dela Libera, seu dono numero um, nos áureos anos 60.
Sinto-me
um cara feliz e privilegiado por Deus por estar vivendo esses emocionantes
momentos na minha vida que me remetem ao passado que adoro recordar, por que
os momentos foram puros, verdadeiros e fizeram parte da minha vida de aviador por
vocação, amor e dedicação. Hoje, mais que nunca, sinto-me realizado e se
pudesse voltar no tempo, faria tudo de novo, apesar do sacrifício e da luta
enfrentada para chegar até aqui e agora.
AMIGOS INESPERADOS e
DESCONHECIDOS QUE PASSARAM POR NÓS NESSE 07 DE SETEMBRO, vocês não imaginam a
alegria de tê-los conosco... Voltem sempre. Tenham a certeza que serão bem
recebidos a qualquer momento... Boa
sorte e bons voos com o PT-CON.......
GALERIA DOS ÉPICOS AVIÕES Piper-140 dos ANOS 60 em Jaboticabal.
PIPER CHEROKEE - 140 PT-CIS
DELFINO e o PIPER CHEROKEE-140 PT-CIS
ALBINO e o PIPER CHEROKEE-140 PT-CIS
ALBINO e BERLINGIERI com o PIPER CHEROKEE-140 PT-DDW
DELFINO e o PIPER CHEROKEE-140 PT-DDW
Da esquerda para direita: Piper Cherokee-140 PT-CLP e PT-CON
DELFINO e o Piper Cherokee-140 PT-DDW