quinta-feira, 18 de março de 2010

Meu querido "TECO-TECO"





Meu querido Experimental J-3, replica do modelo americano ligação e observação, batizado aqui no Brasil como CAP-4 /BR, cuja identidade lhe foi concedida como PP-ZJD. Quantas saudades dos lindos vôos que fizemos nas manhãs e nos fins de tarde ao por do sol, acompanhando as garças que iam para os seus ninhos dormir, enquanto sobrevoávamos a baixa altura e sorrateiramente os rios Jacaré Guaçu e Jacaré Pepira e seus pantaninhos. Foi uma convivência no ar de 98 horas de vôo antes que eu te vende-se para um amigo, o qual te conserva com muito carinho até hoje. Lembro-me ainda do nostálgico vôo que fizemos, quando fui te deixar em Atibaia-SP no seu novo ninho. A minha volta, depois de ter beijado seu spiner na despedida foi triste, pois você partiu para um novo lar e pela incerteza de saber se teria todo o conforto, o carinho e o aconchego do meu hangar, enquanto estivemos juntos. Sei que continuas soberbo, voando garbosamente e conduzindo seus tripulantes em vôos serenos e seguros, mas deixou uma grande saudade no meu coração. Se eu pudesse tê-lo de volta, ah como seria bom. Curtir ao sabor do vento pela sua janela aberta, voando a 100 Km/hora, observar novamente as maravilhas da natureza que só nós que voamos conhecemos, ao som do seu motorzinho de 65 HP com seus quatro cilindros expostos ao ar em uma sinfonia clássica dos Teco-Tecos do passado glorioso da nossa aviação. Chamava-te de “Betty” em homenagem a minha Betty como todos os aviõezinhos que tive ao longo da minha vida. Essa forte relação entre nós foi grande por que durante anos acompanhei toda a sua gestação. Desde o surgimento da sua fuselagem, a confecção das suas asas, sua entelagem, sua documentação, sua pintura na coloração amarela ouro e aquela característica cicatriz preta que leva ao longo do seu corpo em forma de um raio, que é marca registrada dos J-3 seus irmãos mais velhos. Eu tive a alegria de acompanhá-lo nos seus primeiros passos, guiando seu manche e acelerando seu motor, um coraçãozinho jovem e forte , quando caminhou pela pista pela primeira vez e com muita classe após algumas corridas para aquecimento alçou vôo sem que eu espera-se pelos céus da Cidade das Rosas onde nasceu, nossa Jaboticabal-SP. Como um pai que se alegra pelo filho quando dão os primeiros passos eu pude sentir essa emoção quando consegui decolar contigo naquele dia histórico, inicio da realização de muitos sonhos que tínhamos e tivemos a oportunidade de realizar, pelo pouco tempo que estivemos juntos. Aquele garoto que levamos no primeiro vôo seu com passageiro, deve ter crescido também e com certeza nunca se esqueceu daqueles momentos que passamos juntos voando e planando sobre os campos, num setembro em que os Ipês amarelos estavam florindo e embelezando a paisagem. Quando fortaleceu suas asas e atingiu a minha confiança e segurança plena, as circunstancias da vida fizeram com que fosse embora para conquistar seu novo caminho e eu fiquei com a saudade dos bons momentos que estivemos juntos voando. Meu querido “Teco-Teco” , onde estiver espero que esteja bem e que oxalá um dia a gente se encontre novamente, pois quero ver o quanto cresceu e quem sabe ainda você volte para casa, onde será muito bem recebido. Enquanto isso fica as boas lembranças, as lindas fotos e o desenho feito pelo garoto Reinaldo Gigante Junior, o Juninho do Jacaré, o qual ganhei de presente no seu 1ºaniversário como prova de amor por você. Hoje o Juninho que te retratou tão bem pousando em Araraquara-SP(SBAQ) nos anos 80, cresceu e trabalha na unidade da EMBRAER em Gavião Peixoto-SP(SBGP) na área de ensaios e produção em voo e ele sempre pergunta por você meu PP-ZJD.

2 comentários:

  1. Ah, mestre Delfino, você tem toda razão quando relata que, o "garoto" que foi como passagerio no 1º voo do PP-ZJD, nunca deve ter esquecido esse voo. Eu era esse garoto, e realmente, ainda hoje me lembro de tal voo. O ZJD estava sem o manche na frente, e por esse motivo eu fui nesse assento, enquanto você pilotava apartir do assendo de trás, lembrando um desses pilotos dos clássicos "biplanos", que geralmente voam no assento de trás. Espero que um dia, um voo como esse, possa vir a realizar-se novamente, mesmo que não venha ser no PP-ZJD, mas uma coisa é certa: ele nunca sairá dos meus pensamentos.

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  2. Comandante, estava lendo as suas lembranças...! Pra construir um experimental semelhante a esse, a planta do Sport Trainer, da Wag-Aero, com motor VW a ar, é uma boa opção?

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