segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Amigo, por que você foi decolar....





Amigo, por que você foi decolar? Ontem (05.06.2010) a meteorologia prometia tempo ruim para a nossa área. Uma nova frente fria se deslocava com velocidade de 65 a 70 km/hora desde o Leste para o Oeste. Já eram cerca de 17h00min horas da tarde, e o mau tempo tinha atingido Presidente Prudente-SP e Araçatuba-SP e vinha ao nosso encontro. Estava com a aeronave da empresa em uma fazenda na região de Avaré-SP. Atrasamos a decolagem. O prenuncio do mal tempo chegou rápido com fortes ventos e muita chuva, inchando o céu com as temerosas nuvens Cúmulos Nimbos (CB) cheio de atividades elétricas, muitos raios e fortes ventos despejando medo e aflição aos menos experientes. Os CBs no céu são temidos por todos os pilotos, como os Tubarões no mar é para os marujos.Sofremos cerca de 60 minutos no solo com a cauda da aeronave virada para os fortes ventos de superfície, enquanto a tempestade passava. Por força do destino chegamos ao avião que não estava estaqueado minutos antes do vento e da fria chuva que veio com tremenda e assustadora ventania. Sorte nossa que chegou pela cauda da aeronave. Se tivesse chegado pela frente certamente teria feito alçar vôo o nosso Cessna-206 H Stationair e pelo impacto no solo desgovernado certamente teria destruído a aeronave. Agüentamos firme a força raivosa da natureza e para dizer a verdade senti medo estando dentro da aeronave, olhando para a biruta à frente medindo a intensidade da coisa, numa tragédia quase iminente. Foi horrível a força do vento e a chuva emanada da tempestade com raios e trovões, mas que acabou passando por nós uns 55 minutos depois de ter chegado tão rápido. Aguardamos mais um pouco para que o céu volta-se a clarear, principalmente para o lado da nossa navegação de retorno para o lar, Araraquara-sp/SBAQ, onde mantinha contato telefônico desde os momentos que antecederam a tempestade com o operador da RADIO ARARAQUARA/SBAQ (VHF,131.60 Mhz), o qual acompanhava o deslocamento da frente pelo computador. Finalmente, as condições melhoraram e acabamos decolando nos minutos que antecediam o por do sol. Como a frente estava deslocando-se com ventos de 65 Km/hora segundo o radar da IPEMET de Bauru-SP de oeste para leste pegamos vento forte da cauda que aumentou a velocidade aerodinâmica da aeronave e diminuiu o tempo estimado de vôo. Acabamos chegando quase junto com a tempestade em Araraquara-SP. Um jato particular vindo do RJ/Rio de Janeiro-SP pousou direto na pista 35 na minha frente e eu sem perda de tempo pousei direto na 17, já que a frente estava chegando pelo prenuncio dos fortes ventos sentido na aeronave e pela visualização em tempo integral no STORMSCOP do painel. Outro avião, um Cessna CARAVAN-208 da linha que faz diretamente o serviço de malotes bancários e correspondências também estava chegando apreensivo, vindo de encontro à frente já bem próxima do aeroporto SBAQ. Mal foi guardado no hangar na correria o Jato Cessna Citation Sovereing e o nosso Cessna-206 Stationair, a pauleira quebrou e os fortes ventos da destruição terrestre chegaram e chegaram junto com o CARAVAN-208, cujo piloto já estava minutos antes, apreensivo com o mau tempo, mas que também acabou pousando. Estávamos saindo do aeroporto de carro sentindo os respingos grossos da chuva fria de CB que estava chegando e os fortes ventos da tempestade que estava proxima, quando observamos que o CARAVAN-208 iniciou decolagem na pista 17 para o lado de São Paulo-SP seu destino, onde o céu ainda estava claro e sem chuva. Senti um arrepio ao ver a aeronave imprimir velocidade e iniciando a precipitada decolagem e pensei comigo, que loucura, mas desejei boa sorte a tripulação ousada daquele avião. Sei que eles voam bem, são verdadeiros e arrojados profissionais, pilotos de táxis-aéreos nas condições mais adversas de dia e de noite. A alguns anos acompanho as atividades deles ali no aeroporto, nossa base operacional, porém a força da natureza cruel naquele momento estava raivosa e tinha que ser respeitada.
Meu ângulo de visão com a pista após o deslocamento de carro para minha residência, fez com que perdesse a visão do resto da decolagem rumo sul.
De repente em instantes a cidade virou um caos com a chuva e os fortes ventos que iam causando destruição em postes eletricos, placas, telhados desprotegido e arvores arrancando folhas e galhos e destruindo as mais frágeis. Pensei comigo: que situação, será que conseguiram decolar, mas de qualquer forma desejei bom vôo a eles. Bastava aguardar alguns minutos que esse tipo de tempo apesar de destruidor não é eterno e pela sua velocidade passa rápido e sentiriam menos medo e apuros. Graças a Deus, hoje eu já não tenho mais a obrigação do horário a cumprir. A minha experiência de longos 38 anos voando quase que diariamente, me deu maturidade para avaliar certas situações e proceder da forma que desejar em beneficio da minha segurança e dos meus passageiros, cancelando ou adiando uma operação ou mesmo fazendo um pernoite não planejado e muitas vezes indesejado, em algum lugar.
No sábado (06OUT2010) voltei ao aeroporto de SBAQ/Araraquara-SP para comprar gasolina da aviação(AVGAS) para o avião de um amigo de Jaboticabal-SP no posto de abastecimento, quando vi intenso movimento pela pista de carros, com a presença do pessoal do Sistema de Investigação de Acidentes Aeronáuticos da ANAC no conhecido carro Fiat Doblô azul marinho escuro, cor de céu escuro não muito bom. A decolagem mal sucedida do CARAVAN havia virado noticia de jornal e TV. Os periódicos estampavam no sábado/06-NOV-2010 entre muitas noticias essa:
Um vento forte, de até 60 km/h, provocou o pouso forçado de um avião Cessna Caravan-208 logo após a decolagem na pista do aeroporto Bartolomeu de Gusmão, em Araraquara, interior de São Paulo. O avião perdeu a estabilidade e caiu no final da pista, mas os dois ocupantes não ficaram feridos. O Cessna Caravan saiu de Franca-SP, fez uma entrega em Araraquara-SP e seguiria para Jundiaí-SP. A perícia está no local para verificar as causas do acidente. O aeroporto permanece fechado para pousos e decolagens. Fonte: O Gl...
O céu é cheio de mistérios e devemos estar atentos sempre. A meteorologia não perdoa erros, principalmente os mais primários dos erros.

Um comentário:

  1. ´´Sem tirar o mérito de profissionais da área, e tambem sendo um EC-PREV tenho a certeza que é muito facil sem parâmetros tecnicos analizar um acidente e prever atitudes que poderiam evitar o mesmo..o que muitas vezes não acontece quando prescisamos decolar e fazer aquilo que fomos treinados. Quando tomamos uma descisão errada ou certa somos 100% influenciados por alguma situação, seja ela profissional,sentimental ou de interesses monetários. O que acontece depois de um acidente é prever e confessar que perante uma máquina todo acidente pode ser evitado, esquecendo que o ser humano tomado de suas crenças ou treinamentos, este sim, nunca vai conseguir ser evitado. Uma coisa é certa. ´´Todo mundo é um pouco menos´´, um pouco menos certo, ou um pouco menos errado. Creio eu que um pouco mais ao participar de um acidente, e talvez um pouco menos ao apontar um erro alheio...Sobre o acidente, só pra ressaltar o pouso ou a decolagem fora dos minimos de ventos ou visibilidade que foram citados acima no texto;``Comprovados pelos instrumentos de medição do aeroporto´´a aeronave CARAVAN ´´POUSOU COM 06KT de vento, acionou e iniciou a DECOLAGEM com 06KT de vento..fiquem a vontade para discutir o acidente, afinal ele deve servir pra alguma coisa, nem que for pra comparar se o pouso de duas aeronaves com uma ´´Tempestade se Aproximando´´ é mais seguro do que a decolagem de um Caravan...(CMTE D CARAVAN)

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