quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A NEIVA e eu, 56 ANOS NO AR...























































Recordando o passado das boas lembranças da minha vida, acredito que poucos escreveram tanto como eu, na minha infância e juventude. Peguei o gosto pela escrita vendo minha mãe após o seu expediente de trabalho escrevendo cartas, entre outras, correspondendo com sua amiga de Colatina no Espírito Santo e com a RAE – Radiofusão Argentina ao Exterior, uma Emissora de Radio de Buenos Ayres, da qual recebia grandes volumes de correspondência pelo correio, cheio de revistas que divulgavam a Argentina.
Mergulhei naquelas revistas e publicações informativas que estavam facilmente ao meu alcance de menino e ali apesar do idioma meio atrapalhado naquela época, passei a me interessar pela historia daquele país, sua cultura, sua indústria. Mais ainda quando chegou em minhas mãos uma revista comemorativa a Indústria Aeronáutica Argentina que se aflorava com muito destaque naquelas paginas distantes. Curiosamente comecei a indagar se no nosso país não existia uma indústria tão representativa assim, já que apreciava pelos céus da minha inesquecível Terra Natal, a Jaboticabal-SP dos meus sonhos os pequenos Teco-Tecos e outros aviões estranhos que sobrevoavam a cidade. Onde seriam feitas aquelas maravilhosas maquinas amarelinhas na sua maioria que coloriam o azul daquele céu.
Certo dia por força do destino, em frente a minha casa morava um caminhoneiro que tinha um gigante caminhão Scania e ele apareceu para pernoite na sua casa, com uma carga curiosa. A carga mais linda que vi na minha vida sobre um caminhão estacionado frente ao portão da minha residência, nos meus poucos mais de 10 anos. Não sei de que forma, mas havia nascido comigo a vocação pela aviação desde a meninice. Adorava os aviões e naquele dia diante dos meus olhos estava um desmontado na carroceria daquele gigante Scania da época. Meus olhos brilharam e sem perda de tempo atravessei a rua . Fui à casa do visinho acordar o motorista que ainda estava dormindo. Sua esposa de uma amabilidade sem igual não quis acordá-lo naquele momento, pois estava descansando para prosseguir viagem, se não me engano até Votuporanga-SP, onde iria entregar aquela preciosa carga. Ela foi muito gentil em me autorizar a subir na carroceria, para ver e tocar aquela maravilhosa aeronave, sem não antes pedir que tomasse muito cuidado. Descobri que aquele charmoso amarelinho era um PAULISTINHA de fabricação nacional.
Grande descoberta para um garoto que gosta de aviões, afinal o Brasil produzia aviões e como saber mais sobre a nossa indústria aeronáutica. Parti para as minhas pesquisas em bibliotecas e fui atrás de livros, revistas e jornais. Naquela época nós não dispúnhamos desse maravilhoso universo que é a Internet dos nossos dias, onde se consegue pesquisar o imaginável com facilidade e a rapidez dos tempos modernos. Coincididamente encontrei algum relato, não sei aonde que existia uma Indústria Aeronáutica de nome NEIVA, aquela fabricante do PAULISTINHA que vi no caminhão Scania em frente de casa. Escrevi para Botucatú-SP, uma curiosa carta e atenciosamente me respondeu o Gerente da Fábrica, Engº Aer. PAULO GIAROLA, presenteando-me com vasto material fotografico e informativo das aeronaves e suas especificações técnicas.Posteriormente, descobri que a Indústria Aeronáutica Neiva havia sido fundada no Rio de Janeiro-RJ no mesmo ano em que eu nascia, áureo 1954. Nós tínhamos a mesma idade, a mesma juventude. Sua fundação se deu pelo entusiasta da aviação, o empresário JOSÉ CARLOS DE BARROS NEIVA, que começou produzindo planadores e que curiosamente mudou-se para Botucatu-SP em 1956. Foi quando entre os anos de 1957 a 1971 produziu inúmeros modelos do famoso PAULISTINHA e o garboso utilitário REGENTE. Em 1971 passa a produzir o T-25.
Sua historia ascensional é vasta. Em 1975, quando o Brasil fechou a importação de aeronaves estrangeiras, a Neiva iniciou a produção de aviões pequenos para a EMBRAER. No período o entre 1975 a 2.000 produziu os modelos CORISCO, TUPI, CARIOCA, SENECA, SERTANEJO de origem americana e montados no Brasil e o CARAJÁ nacionalizado. Finalmente em 11 de março de 1980 nós tivemos a noticia de que a NEIVA foi adquirida pela então EMBRAER.
Em 1982, o Brasil que tanto necessitava de uma aeronave agrícola ganhou o IPANEMA desenvolvido pela NEIVA, iniciando sua produção em serie. Afinal a NEIVA já possuía alguma experiência no campo da aviação agrícola. No passado havia desenvolvido e fabricado, porém sem muito sucesso, o PAULISTINHA AGRICOLA que não decolou na aceitação popular durante a competição com os PIPERs PA-18/A- Agrícola de fabricação americana, equipado com motor de maior potência.
O avião agrícola IPANEMA é hoje o campeão brasileiro de vendas em seu segmento, e pode ser equipado com uma série de opcionais; como o pulverizador eletrostático, o difusor de sólidos e o sistema de posicionamento global DGPS. Nas versões a gasolina (AV_GAS) ou a álcool (AV_ALC), o IPANEMA é a melhor opção entre os pulverizadores aéreos.
Sua longa história até os nossos dias assim se resume:
Em 1995, inicia a produção de componentes Aeroespaciais
Em 1997, inicia a produção de componentes da família ERJ 145. Em 1999, inicia a produção do EMB 120 Brasília. Em 2002 inicia a produção de componentes do EMBRAER 170 e gabarito para a asa do EMBRAER 190.
Em 2003 inicia a produção de componentes do ALX. Hoje são mais de 3.700 aviões entregues, entre os modelos IPANEMA, Brasília, Minuano, EMB-810D, Planador BN-1, Planador BN-2, PAULISTINHA, REGENTE, UNIVERSAL T-25, Sertanejo, Corisco, Carajá.
Instalada em Botucatu, interior do estado de São Paulo, a Neiva além de ser fabricante do avião agrícola, fabrica também componentes e subconjuntos para os Jatos Regionais Embraer da família 145 e 170, assim como para a linha de aviões militares e certificada pela ISO 14001 e OHSAS 18001.
A Indústria Aeronáutica Neiva recebeu a certificação do Centro Técnico Aeroespacial (CTA) para o IPANEMA movido a 100% álcool hidratado no dia 19 de outubro de 2004. O IPANEMA é o primeiro avião de série no mundo a sair de fábrica certificado para voar com este tipo de combustível.
Eu cinqüentão, desde garoto acreditei na indústria aeronáutica do meu país, a Neiva. Aquela que começou escrevendo cartas como eu e divulgando os seus produtos em papeis mimeografados naquela época. Hoje tenho o orgulho de ver uma empresa marcada por meio século de qualidade e satisfação do cliente, contribuindo com o desenvolvimento do Brasil, economizando divisas, gerando milhares de empregos e com produtos certificados que estão voando até os nossos dias.
O orgulho nacional é o treinador PAULISTINHA P-56C e o IPANEMA nas mais variadas versões.
Parabenizo os proprietários e conservadores do P-56 que ainda estão voando garbosamente pelos nossos céus.

Um comentário:

  1. Que beleza ter um relato tão bem embasado como o seu Cmte Delfino. E só para ajudar um pouco no relato, o Engenheiro Neiva inspirou-se para desenhar o Planador NEIVÃO, em um Grunau Baby do Aeroclube de Planadores de Osório, RS onde ele fez o curso de piloto de planador.

    Schumann

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