terça-feira, 6 de outubro de 2009

COISAS DA VIDA, o PT-BJO....



COISAS DA VIDA
Certo dia chuvoso de um final de semana nos idos e gloriosos anos 80 deixamos nossa casa em Jaboticabal-SP. Eu e a Betty, como costumeiramente fazíamos, chegamos ao aeródromo de Jaboticabal-SP, onde para nosso encanto, encontramos estaqueado no pátio gramado do Aero Clube um lindo CESSNA-170 A super conservado, nas cores verde e branco que garbosamente destacava-se na paisagem chuvosa daquele fim de semana. Naquela época tão remota, nós tínhamos um Cessna-170 A, o PT-BEQ, chamado “BETTY”, que por ser nosso achávamos o mais lindo do mundo, tal o carinho que tínhamos por aquela maquina que nos transmitia prazer e alegria, proporcionando-nos momentos inesquecíveis. Entretanto o Cessna-170 A, verde musgo que estava diante dos nossos olhos tomando chuva, o PT-BJO, chamava muito a atenção por detalhes técnicos, pelo seu majestoso painel remodelado e completo, seu interior agradável e impecável e por uma infinidade de qualidades que o nosso não possuía. Afinal aquele Cessna, o PT-BJO era de família rica, cujo proprietário viemos, a saber depois, era um próspero empresário que estava transferindo-se para a cidade de Bebedouro-SP, onde assumiria elevado cargo de diretor executivo do Grupo Multinacional CARGIL, cujo segmento era o ramo de industrialização de suco de laranja no auge da época.
Em sua viagem para seu novo destino, o mal tempo, cujas condições meteorológicas não eram das melhores na ocasião, fez com que o seu proprietário e piloto, Cmte. Luiz Alberto Gambassi deixa-se a aeronave por alguns dias ali, até que o tempo permitisse prosseguir para sua nova casa em Bebedouro-SP. Naquela época o aeródromo de Bebedouro estava temporariamente localizado na Chácara São Vicente do Prefeito Sergio Stamatto, fazendeiro e também piloto e proprietário de aeronave, cuja propriedade acabou se tornando local publico de acesso para os amantes da aviação e onde se realizava muito shows aéreos. O antigo aeroporto da cidade, remanescente dos anos 30 estava fechado e se transformava em um loteamento popular, enquanto a tramitação para a construção do novo e atual aeroporto da cidade (SDBB) estava sendo concluida.
Como o PT-BJO acabou ficando no aeródromo de Jaboticabal-SP naquele final de semana chuvoso, estivemos visitando e rodeando o avião varias vezes. Em uma delas, cheguei a comentar com a Betty, que jamais conseguiria ter um avião tão equipado, bonito e charmoso como aquele que nos despertou um grande amor a primeira vista. Nós já havíamos adquirido, usufruído e vendido algumas outras aeronaves Cessna, mas de longe era possível imaginar que um dia nossas posses financeiras conseguiriam comprar um exemplar tão conservado e bonito como aquele Cessna-170A que desfilava beleza diante dos nossos jovens olhos. Naquele dia cheguei a dizer em baixo da asa dele, escondendo da fina chuva, que jamais iria conseguir ter um avião como esse e a Betty, minha companheira e incentivadora de todos os momentos, disse que um dia eu conseguiria ter um igual ou melhor que esse. Acho que ela estava adivinhando.
E não é que passado algum tempo, nós havíamos vendido o nosso avião, o PT-BEQ e o proprietário do PT-BJO, avião dos meus sonhos, que nessa altura já o conhecíamos pelas festas de pára-quedismo em que participávamos em Bebedouro-SP, acabou desentendendo-se com seu sócio, o saudoso Cmte. Rubens Nicoletti e resolveram vende-lo.
A oportunidade surgiu num piscar de olhos, COISAS DA VIDA, pois estávamos com o dinheiro na mão. Assim em poucas palavras e pagando a vista o valor que queriam pelo PT-BJO, aquele mesmo avião que um dia conhecemos solitário sob fina chuva no gramado em Jaboticabal-SP veio a ser nosso. Nada acontece por acaso em nossas vidas. O destino havia selado nossa união e foi durante muitos anos o avião que nos deu o pão de cada dia com muita alegria pelo amor que tínhamos por ele. Passou a fazer parte integrante da nossa família.
Convivi boa parte da minha vida de aviador aventureiro, voando e trabalhando com ele. Dois motores se foram ao longo do período em que voamos, mas nunca o abandonei. No momento certo, na hora certa lhe dei um novo coração rejuvenescido para voar alto mais 1.000 horas com muita segurança. Foi meu amigo Ruy Teles, grande e considerado mecânico de aviação que durante todo o período em que o BJO, carinhosamente chamado de “BEJO” nos pertenceu, tornou-se seu Personal Trainer, cuidando da manutenção dessa aeronave com tanto zelo. Foi ele quem fez o ultimo motor, deixando-o zero de novo e dando mais vida para prosseguir voando.
Naquela época das vacas gordas, consegui arrendar a aeronave para a VOARTE- Aerofotos de Londrina-Pr, do Titio João e durante alguns anos voei com ele trabalhando por boa parte do Brasil, fazendo fotos aéreas. Adaptamos um tanque auxiliar de translado com bomba elétrica e assim conseguíamos ficar no ar por mais tempo atingindo longas distancias. Às vezes voando por cerca de 08:00 horas ou mais ininterruptas fotografando sítios, fazendas, industrias, estradas, rodovias, cidades, etc. E assim com o “BEJO” voamos parte do Estado do Paraná, todo Estado de São Paulo, excluindo a capital e grande São Paulo, Minas Gerais e Bahia.
Ficávamos fora de casa às vezes por vinte dias ou mais, deixando o avião distante onde se encontrava e voltávamos de carro para um breve descanso com a família, enquanto o laboratório processava as fotos do trabalho. As pequenas manutenções e as simples troca de óleo de 25:00 horas eu mesmo fazia no mato. A gasolina de aviação (AVGAS) e o óleo lubrificante (Aeroshell W-100) eram transportados em uma caminhonete que tinha um tanque de armazenamento instalado para 1.000 lts, com motorista treinado por nós, o qual proporcionava o apoio de terra, durante as nossas longas e distantes operações fotográficas.
Esse Cessna-170 A foi fabricado nos Estados Unidos em 1954 no mesmo ano em que nasci. Costumava dizer sempre que via sua placa de identificação, que nós pela afinidade nascemos juntos. Eu no Brasil em Jaboticabal-SP onde viemos a nos encontrar pela primeira vez e ele em Wichita-KS/USA. Adquiri com o decorrer do tempo que com ele estive uma habilidade fora do comum em pilotar esse avião, com o qual fazia coisas incríveis, pousando em lugares inacreditáveis que outro C-170 ousaria ir. Certa ocasião pousei em cima da Serra da Canastra-MG, dentro do Parque Nacional em uma sinuosa estrada perto do Curral de Pedra com o Titio João para completar os tanques principais com AVGAS que carregávamos até então em tamboretes de plástico dentro do avião. Isso antes da instalação do tanque auxiliar de translado com bomba elétrica para abastecimento automático em vôo, que facilitou muito nossas operações.
São tantas historias vivida com esse Velho Amigo, que deixou muitas saudades. Como as coisas foram evoluindo, depois de muito tempo tendo essa aeronave no nosso convívio diário, foi com muita tristeza que desfiz desse maravilhoso avião, vendendo-o para um Baiano, que partiu com ele da Oficina de Manutenção do Aéro Clube de Rio Claro-SP para ir puxar faixa de propaganda pelo litoral da Bahia e por lá acabou acidentando-se em uma operação mal sucedida de reboque de faixa, destruindo a aeronave. Acho que ele não teve o mesmo amor que eu tive por essa aeronave, pois nunca mais o “BEJO” voltou a voar. Isso entristece muito.
Só vendi a aeronave e foi contra a minha vontade, por que precisava de dinheiro para completar o montante a fim de adquirir um Cessna-182 F SKYLANE, o PT-CAP, para o qual tinha outros planos, o qual também foi tratado com amor, zelo e carinho por alguns anos, proporcionando-nos também muitos momentos alegres e felizes e com o qual muitas outras historias aconteceram em nossa vida, COISAS DA VIDA....

2 comentários:

  1. Infelizmente o ronco de seu motor foi calado, digo isso com lagrimas nos olhos pois ate hoje sonho com este Avião e espero um dia poder ressucitalo pois as melhores lembraças da minah infancia estão com esta Maquina.

    Lico

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  2. Voei muito no Bejo, antes de ir para Bebedouro ele pertenceu ao meu tio Giocondo Negro de limeira SP. Fiz meu primeiro voo nele com 3 meses de idade . Anos depois já na minha adolescência meu tio vendeu o Bejo para comprar em sociedade com meu pai um Cardinal. Fiquei muito feliz de poder encontrar fotos do Bejo e saber um pouco do que foi feito dele.

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