quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

TERRITÓRIO DE RONDÔNIA... Quem te viu quem te vê!

Nos anos 1978 e 1979 fiz muitos voos para o Território de Rondônia, hoje Estado de Rondônia. Voava como Comandante de um Cessna-210 L Centurion 1974, o PT-KHF que pertencia A INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE FRUTAS de Matão-SP, depois transformada em CENTRAL CITRUS, que acabou fechando suas portas. 
Morava em uma casa cedida pela empresa, na Fazenda Boa Vista dos Ingleses, Bairro Toriba em Matão-SP e a aeronave ficava baseada em Araraquara-SP, naquela época SSAK, hoje SBAQ.  O mesmo hangarzinho de madeira que foi da Construtora Igaraçu Ltda, onde comecei a voar como Comandante entre 1974 a 1976, cujo velho hangar  antes pertencia ao Sr. Edmundo Lupo.
Matão tinha pista de pouso, o SDLY, cuja área do Campo de Aviação foi cedido pelos ingleses para a Prefeitura Municipal de Matão-SP, mas os hangares estavam começando a serem construídos. Os proprietários da Sociedade, Indústria e Comércio de Frutas Matão Ltda eram: Orlando José Scutti, Salvador Scutti e Milton Groppa Aquino. O Miltão era quem cuidava da abertura e dos negócios da fazenda. Era um grande companheiro, um verdadeiro amigo. Variavelmente também utilizava aquele aeródromo publico. Quando não estava voando para a Rondônia, onde a empresa havia adquirido uma Gleba de Terra e estava abrindo uma fazenda, explorando parte da madeira, que era obrigatório e por lei ser desmatada. Fazia também quase que regularmente, voos de malotes para São Paulo-SP destino ao Campo de Marte pelo menos duas vezes por semana, onde a empresa  mantinha no CEASA uma distribuição de laranja e limão. Paralelamente, muitas segundas-feiras levava com o Centurion a filha de um dos patrões, que estudava Odontologia em Mogi das Cruzes-SP, e ia buscá-la nas sextas-feiras utilizando o aeródromo Hiroy em Biritiba Mirim-SP.


Devo muito ao Milton, Orlando e ao Salvador, que custearam todo meu treinamento na aeronave Centurion-II PT-KHF, pois naquela época os aviões que recolhiam o trem de pouso eram considerados do "GRUPO B" e havia necessidade de treinamento para receber a credencial, segundo exigências do DAC - Departamento de Aviação Civil que era o gestor da aviação em geral no Brasil. Fiz todo treinamento no próprio avião da empresa que iria voar, com a supervisão do Instrutor de Voo: Alvaro Ivo Thiezerini de Monte Alto-SP , que voava na época um Centurion igual, pertencente ao Armador Sr. Félix de Matão-SP.

Relembrar e falar desses voos chega a ser até inacreditável por mim mesmo, principalmente por voar em um tempo sem muitos recursos, no "Arco e Flecha" e no "Pau e Bola". Decolar a noite quando os aviões monomotores ainda estavam proibidos de voar noturno e IFR aqui no Brasil. E era assim que funcionava, decolagem noturna as 04:00 da matina de SSAK/Araraquara.....percorrer 1.200 Km até Cuiabá-MT em 04:00 hs de voo, só na bussola e no ADF. Quando os funcionários estavam entrando no escritório da empresa em Matão-SP, estávamos pousando em Cuiabá-MT, cumprindo a primeira etapa da viagem. O curioso Plano de Voo era chamado de Ficha 227, muito simples e objetivo...
Depois o trecho ficava pior e com menos apoio, mas era visual. Cuiabá – Vilhena/RO, Vilhena - Pimenta Bueno/RO. Pimenta Bueno era nossa base operacional para ir para a gleba.  De lá voava para Espigão D'Oeste, pousava em uma rua, guardava o avião no quintal da casa do responsável pela gleba e de lá com seus cavalos, íamos  levando mantimentos e outros apetrechos por entre o mato em picadas, atravessando riachos, até onde a fazenda da empresa estava sendo aberta. Dormíamos em redes, tomávamos banho no rio e comíamos alguma caça, sobrevivendo também  por dias com os mantimentos que levávamos.

Hoje nem acredito que fazia isso sem se preocupar com nada e confiante, talvez fosse a idade arrojada e cheia de desafios sem pensar nos perigos e no medo. Acho que voar naquela época era uma grande Aventura para um jovem inexperiente, mas cheio de vontade. E assim foi minha caminhada na aviação, aprendendo a confiar nos instrumentos que tinha e que os mais velhos e mais ousados me ensinaram como funcionava. Quando iria imaginar nas facilidades de hoje com o advento do GPS, jamais!
Aprendi a acreditar na bussola, no cronometro e no horizonte artificial e alguns cálculos primários de navegação com o computador de voo manual Jepessen E6B. Aprendi a voar ADF na marra, IFR foi entrando e saindo de nuvens e estudando muita meteorologia no Manual do Farid Ched/ Grande meteorologista, usando o Atlas de Nuvens e Observação na superfície. 








Aprendemos um pouco de Morse, para tentar identificar os indicativos de ADF e o Código Q, o mesmo que utilizavam os radioamadores para nossas comunicações. QAM era o Boletim meteorológico um tanto demorado, QAP era estar na escuta, QRM era interferência na radiocomunicação, QRV era estar a disposição e assim por diante, iam descortinando o código Q nas mensagens radiotelefônicas.
De Cuiabá para Vilhena-RO o ADF ajudava bastante. Voava com o ADF no QDR (ponteiro do indicador apontando para  cauda da aeronave) até o sinal ficar fraco e ir sumindo com o distanciamento da aeronave de Cuiabá-RO. A seguir permanecer no curso, confiando na bussola e no tempo remanescente estimado, passando a escuta do radio VHF na frequência 126.70 Mhz da Estação da FAB em Vilhena-RO, que facilitava a navegação gratuitamente com o serviço de Recalada, o que consistia em uma contagem de 0 a 10 pausadamente com o PTT do radio acionado continuamente e assim ao receberem o sinal pela intensidade conseguiam determinar a posição da aeronave e guiar a navegação informando algumas vezes o nosso novo curso em graus de desvio pela bussola.
 Ao pousar em Vilhena –RO ia direto até a estação da FAB agradecer o operador, nosso Anjo. De Pimenta Bueno-RO pouco apoio que tínhamos para determinar a navegação era a BR-364 de terra que na época das chuvas era um terror para os caminhoneiros e os ônibus. Aviões lançavam cargas de alimentos para eles quando ficavam sitiados ao longo da cruel estrada. O pessoal  do Exército também ajudavam com seus equipamentos em uma verdadeira operação humanitária.



















Finalmente de Vilhena-RO até Pimenta Bueno-RO a coisa era mais mansa, a BR-364 era um tremendo apoio.
Ficávamos em um único e pequeno Hotel, onde era feito contato com os responsáveis pela gleba, que cuidavam da área determinada para a empresa. Em Pimenta Bueno era também planejada a operação da viagem, com compra de mantimentos, munição para defesa e caça, etc... A seguir decolávamos para Espigão D'Oeste-RO, onde se iniciava a partida por terra com auxilio de cavalos até a gleba. Geralmente ficávamos vários dias hospedados na casa de madeira feita de tabuas confeccionadas com moto-serra.
Muitas vezes voávamos para Cacoal,  Presidente Médici e Ji-Paraná. Quando havia uma folga gostava de ir até a tribo indígena em Riozinho ver os índios ou até o Rio Ji-Paraná, onde era pura diversão. Certa vez um piloto deu um raso no rio com seu C-198 Skylane, onde havia o cabo de aço da balsa que acabou não vendo, impedido pelo forte sol e acabou colidindo. Se não me engano houve apenas um sobrevivente que estava no avião. Coisa terrível que acabou ocorrendo por imprudência e brincadeira. Em Espigão do D'Oeste-RO achava curioso o cemitério, onde plantavam cereais entre os túmulos. Devia ser arte do coveiro.






O PT-KHF ficava baseado também boa parte do tempo, no Campo de Aviação de Pimenta Bueno-RO aos cuidados do guarda campo que zelava pelas aeronaves , pois morava lá mesmo no aeródromo.
Foram tantas e tantas viagens, memoráveis e históricos voos. Na época das férias escolares o Miltão aproveitava aviagem para levar os seus garotos e sobrinhos( Miltinho, Dudi, Rudinei e outros) que residiam em Matão-SP, para conhecer a Rondônia e voávamos por lá. Era maravilhosa a companhia dos garotos se aventurando e descobrindo a Selva. Passamos bons momentos juntos. Fizemos grandes incursões pela Selva, com auxilio dos mateiros, tomávamos banho nos riachos, pura adrenalina. Era impressionante o tamanho das Castanheiras, parece que atingiam o céu. A noite o céu límpido ficava repleto de estrelas. Milhares delas até o horizonte. Um verdadeiro espetáculo.










Velhos Tempos, Lindos Dias !

4 comentários:

  1. Conheceu o piloto Nilton Afonso de Queiroz, que desapareceu num voo?

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  2. Sou Sidnei de Oliveira! Conheci o Nilton Adolfo de Queiroz ele morava em Pimenta Bueno e era casado com uma das filhas do Sr Laurindo Manzoli que era proprietário do cinema de Pimenta Bueno e era cliente do Bradesco onde trabalhei de 1.980 a 1987 e que era proprietário da aeronave citada nessa matéria que bateu no cabo de aço da balsa com seu piloto e o Sr Germano José Filho (proprietário do Restaurante e rede de Hotéis Araguaia onde eu trabalhava na época do acidente) onde vieram a falecer e o Sr Clemente que sobreviveu ao acidente (proprietário de uma loja de Móveis ) quando em um domingo estavam voando a passeio com rasantes no rio Apediá.

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  3. Eu sou sobrinho do Nilton ,ele é irmão da minha mãe.

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  4. Tio Nilton era casado com a tia Dejanira.

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