Com certeza eles também
se lembram de mim e isso é que é o importante em uma verdadeira e
desinteressada amizade. Nós tivemos a sorte de ingressar na aviação, ainda num
tempo em que os fazendeiros faziam questão de ter um avião. Ou por luxo ou por
própria necessidade, ou mesmo por status. Nos anos 70 das nossas vidas, não
havia comunicação fácil, as fazendas estavam sendo abertas longe e o avião
supria essa necessidade com maestria absoluta. Você saía da escola com o
PPzinho no bolso e já tinha um monte de chaves de aviões te esperando, para
voar. A necessidade fazia com que a experiência viesse com o decorrer do tempo e com a sorte. Uma vez brevetado, emprego garantido...
O aviador passava a fazer parte da família do patrão e era pau para toda obra. Pilotava, dirigia, auxiliava...Tudo isso fazia parte do jogo e o reconhecimento era grande, bem familiar.
Assim era a aviação daquela
época nostálgica que não volta mais. Estávamos na era dos monomotores e
pequenos bimotores para os mais abonados, de Cessna 170 a 210 os Campos de Aviação
estavam repletos de aviões, muitas vezes estacionados na grama, por falta de lugar
nos antigos hangares oriundos da Campanha da Aviação Dê Assas para o Brasil.
Tudo
era glamoroso, desinteressado e os aviadores aventureiros já nasciam com vocação
pelo voo. Os Aéro Clubes eram as maternidades, onde os pilotos nasciam,
cresciam, ganhavam asas e decolavam nas suas carreiras. Aí chegou a resseção de
1975, quando o governo proibiu a importação de aeronaves para favorecer a
indústria brasileira que estava nascendo. Começamos a engatinhar de novo. Trocar os
Cessnas desbravadores, brutos para os trabalhos pesados das fazendas por Coriscos, Cariocas, Minuanos e Sertanejos entre outros
tantos ficou provado com o tempo que o caminho não estava muito
certo para o seguimento, mas fazer o que, se a importação das aeronaves estava fechada. Tudo isso num tempo incerto aconteceu até mesmo com muito sacrifício
e algumas perdas humanas...Dessa forma a humanidade continuou caminhando, diante
das transformações para chegar onde estamos.
Quantas saudades, quantas
alegrias deixadas pelo tempo, que só os pilotos pioneiros, hoje chamados Velhas
Águias sabem avaliar. Nós somos da Velha Guarda, até mesmo esquecidos e com
muita pena sentimos que a memória histórica da aviação em boa parte foi jogada ao tempo. Entretanto continuamos vivos para relembrar nossa época e com
orgulho podemos dizer aos mais jovens que somos sobreviventes da grande construção dessa aviação
épica, que ainda não está terminada e que nos custou tantas fadigas, tantas
incertezas, tantos sacrifícios. Fizemos a nossa parte, ágora é a vez deles !
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