domingo, 2 de dezembro de 2018

Minha linda história de Vida ! Tudo pelo Voo...

Eu devia ter uns 10 ou 11 anos quando certo dia deparei com a minha mãe Elza mostrando algumas fotos antigas para a minha avó Maria. Minha mãe era apaixonada por fotos e vibrava com elas. Tinha uma mania muito legal. Desde o nosso nascimento, depois, de mês em mês nos arrumava com as melhores roupas que ela mesma fazia, pois era uma costureira de mão cheia e nos levava no Studio fotográfico daquela época, para fazer nossas fotos, as quais iam colecionando em um álbum da família. 
O Foto Alexandre era um profissional muito bem quisto e requisitado na cidade. Guardo com o maior carinho até hoje esse acervo familiar e acredito que o gosto que tenho desde pequeno pela fotografia veio da minha mãe. Sempre fui fascinado por fotos, naquela época Branco&Preto. Acompanhei a evolução da fotografia e das chamadas máquinas fotográficas e foi com o fruto das minhas primeiras economias que consegui comprar a primeira, de uma infinidade de outras tantas com o decorrer dos anos. Comecei com uma máquina FLIKA com filme de 12 poses.
Depois vieram os filmes de 24 e 36 poses, até que surgiu a película color, uma inovação fantástica e em seguida uma máquina fotográfica que tinha uma placa e duplicava o filme. Sensacional o custo beneficio...
Incrível como essas coisas me fascinavam.
Naquele exato dia, durante o tradicional café da tarde, na cozinha ao lado do fogão de lenha, momento em que minha querida mãe folheava umas fotos em um bate papo descontraído com minha avó, ela resgatou um retrato antigo de um primo distantes delas de Pirajuhi-SP. 





Ele estava frente a um aviãozinho no Aero Clube daquela cidade. Isso chamou minha atenção e de imediato quis ver a foto. Foi um passe de mágica, me apaixonei pelo avião que hoje reconheço como um Piper J-3.
Naquele momento senti que queria ser aviador. Aquilo se tornou meu sonho.
Quis ficar com a foto, mas minha mãe e minha avó não permitiram. Fiquei triste, magoado e pensativo. Não dormi naquela noite e só pensava nesse tal primo distante da minha mãe, que minha avó havia comentado que era piloto a contra gosto da família.
Nunca havia me preocupado em ver o álbum da família, mas aquela imagem me marcou muito. Minha mãe guardava esse álbum, (que hoje se encontra em meu poder e preservo a sete chaves com o maior carinho, como um Tesouro), em uma escrivaninha que era uma discoteca dela. Quando eu estava em casa e ela não estava, mexia lá para ver a foto. Certo dia peguei escondido a curiosa foto e levei na escola para mostrar para os amiguinhos, que se encantaram e tiraram a atenção da aula, mas a professora não gostou e contou logo para minha mãe.
A Elza não batia, mas me deixou de castigo. Perdi meu fim de semana ficando com meu avô em casa, enquanto ele preparava suas próprias varas de pescar. Assim ganhei a amizade do meu avô Luiz que se tornou meu confidente, meu amigo, meu companheiro, já que eu não tinha muito afinidade com meu pai, sangue de Portuga, o qual era um Caixeiro Viajante e não vivia em casa, só de passagem. Meu avô me levou junto com os amigos dele muitas vezes nas pescarias que faziam no Rio Mogi Guaçú, na ponte da Barrinha-SP a 18 Km de Jaboticabal-SP.
Minha mãe adorava também escrever cartas e passava horas fazendo isso, após o expediente domiciliar. Certa vez eu a vi com uma caneta tinteiro escrevendo para uma amiga que tinha em Colatina-ES, com a qual se correspondia desde antes do casamento. Ela vivia escrevendo, para os amigos, parentes, etc... Ela amava fazer isso e algumas vezes fui com ela postar cartas no correio e vi que as pessoas de lá tinham o maior carinho por ela. Italiana ativa e comunicativa esse era o temperamento dela, sem contar que seu coração era grande demais. Sempre pronta a ajudar, a escutar e a tentar resolver os problemas dos outros.
Revistas vindo da Argentina chegavam em casa aos montes, pena que não guardei nenhuma, mas folheie boa parte delas, principalmente aquelas que falavam da indústria de aviões naquele pais Hermano naquela época. Ela amava a Argentina. Era uma radioescuta e vivia colada no radio valvulado sintonizando a RAE – Republica Argentina Al Exterior, da qual acabou se tornando correspondente e foi homenageada inúmeras vezes. Recebeu diplomas e alguns eu conservo com o maior orgulho até hoje. Seguindo os passos dela em 1969, comecei a escutar a RAE  e a me corresponder com a rádio, tendo recebido vários cartões de Radioescuta, revistas e flâmulas.
Escrever, se tornar Radioamador e se comunicar com o mundo através de cartas foi também uma paixão que veio dela e fez parte da minha vida.
Minhas conversas com meu pai sobre aviões e do meu desejo só acabavam em conflitos, mas minha mãe abraçou minha causa, me levou no Campo de Aviação para ver os aviões e quando íamos a São Paulo-SP, nas esperadas férias, na casa dos parentes, tirava um dia para me levar no Aeroporto de Congonhas para ver os aviões. 




Certo dia a Italianíssima Elza convenceu os responsáveis pelo aeroporto a me deixar passar a grade de proteção e eu chegar até ao lado os aviões. Isso foi o máximo na minha vida, acho que tinha uns 13 ou 14 anos.

Lembro claramente daquele dia como se fosse hoje. Entre os aviões no pátio havia um quadrimotor da Força Aérea Americana, que acredito que estava em manutenção e esse Anjo do aeroporto que me guiava, mostrando os aviões falou com um dos Gringos, que sem eu entender nada me levou para mostrar o interior da aeronave. Confesso que senti até certo medo, pois não conseguia me comunicar com o americano, mas foi muito gentil.  Coisas maravilhosas que acontecem na vida da gente e nada é por acaso. 

São passagens da nossa vida e devo muito a minha mãe que acreditou em mim e apostou no meu sonho, mesmo tendo que se indispor com meu pai inúmeras vezes.
Meu maior arrependimento na vida foi que depois com o passar do tempo, já como Aviador eu tinha condições e não lhe proporcionei uma viagem. Para ela conhecer o país que tanto admirava, a Argentina, onde estive inúmeras vezes. Entretanto ela voou comigo no nosso primeiro monomotor Cessna-170. Meu pai não aceitava a ideia de me tornar aviador. O sonho e esperança dele sobre eu era outro e o decepcionei. Fiz aquilo que mais queria na vida e não me arrependo de ter me tornado um Aviador, cheio de amigos e Feliz por ter contribuído com os diversos segmentos da aviação durante esses 46 anos no ar, ao invés de ser um médico como ele desejava.
Não posso negar as grandes viagens nas férias de julho e do fim do ano que meus pais nos proporcionaram e os maravilhosos passeios a Museus, bosques, praia, etc.. Eramos muito Felizes e essa felicidade reflete na vida da gente...Tivemos uma vida e tanto com eles, que já partiram cumprindo suas honrosas missões aqui na Terra.
A vida é assim. Nada é como a gente quer e tudo acaba se repetindo. Meu sonho era que meu filho seguisse minha carreira como Aviador, mas ele escolheu outra. Que seja Feliz como eu no Sonho dele....

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