Tive
a satisfação de conhecer e depois conviver um bom tempo com o Piloto Agrícola:
Cmte. Clovis Vezune, assim que conclui o CAVAG-Curso de Aviação Agrícola em
1979 no CENEA- Centro Nacional de Engenharia Agrícola na Fazenda Ipanema em
Iperó-SP. Havia conhecido o também Piloto Agrícola Edilson Pitanga quando eu
era Instrutor de Vôo no AC.Jaboticabal-SP nos anos 70. Ele residia em Jaboticabal-SP e voava
THURSH COMMANDER SR-600 na Serrana Aviação Agrícola da QUIMBRASIL na Usina São
Martinho em Pradópolis-SP, comandando a maior aeronave agrícola naquela época e
me convidou pra voar lá.
Aceitei,
cheguei com a maior alegria e a empresa SERRANA QUIMBRASIL fechou e as
aeronaves foram vendidas. A maioria para a AÉRO AGRICOLA CAIÇARA LTDA do Cmte.
Roberto Moura, com escritório em Santos-SP e base operacional e oficina de
manutenção na Fazenda Mambú da família, em Itanhaém-SP. O Cmte. Pitanga
continuou voando na Usina São Martinho
pela CAIÇARA e me levou para ser seu ala. Como não tinha experiência na nova
atividade passei a voar inicialmente os PIPER PAWNEE -235 e 260 HP
(PT-DJS,PT-DJM,PT-DJT,PT-DOX,etc...) da empresa, aprendendo os primeiros passos
nessa atividade tão técnica e cheia de riscos.
Meu
desempenho foi satisfatório e a sorte que anda até hoje do meu lado, fez com
que apenas três meses depois, já estava voando THRUSH COMMANDER SR-600 lado a
lado com o Pitanga.
Nunca devi tanto a tão poucos. Meus
primeiros voos profissionalmente aconteceram em uma Usina de Açúcar em
Rafard/Capivari-SP, onde o Cmte. Roberto Moura me levou para terminar algumas áreas
de aplicação de herbicida e trazer o Piper Pawnee PT-DJS para Pradópolis. Lá em
Rafard-SP conheci um extraordinário Técnico Agrícola com vasta experiência na
aplicação de defensivos por via aérea, o Mineiro, que sem hesitação e muita
dedicação me ensinou muito.
Já
na Usina São Martinho em Pradópolis-SP, além do Cmte. Pitanga, meu orientador nas
atividades aéreo-operacionais, surgiu outro Técnico Agrícola conceituado e
muito experiente que me ajudou bastante, o Nivaldo Donizete.
Como a Campanha
aeroagricola na cultura da cana de Açúcar em média era realizada em seis meses,
os meses ociosos eu me dedicava a ministrar instrução no AC.Jaboticabal e
cheguei a ir voar nas Culturas de Banana no vale do Ribeira, ficando na Base
operacional da Caiçara em Registro-SP.
O
Clovis voava lá na região de Juquiá, Cajati, Sete Barras, Eldorado,
Jacupiranga, etc..em tempo integral. Na minha concepção ali era o nosso Vietnã
brasileiro. Quando você ia voar nas áreas do Morro do Votupoca (www.camiloaparecido.blog.terra.com.br) ,
longe da civilização parecia que estava sei lá onde. Acho que no Camboja.Toda
região serrana ali perigosa e cheia de armadilhas. Morros, fios,nevoeiros, árvores e
bananais por todos os lados. Os nipônicos ali residentes dão um toque típico na
região, com sua tradição e costumes. A região era perigosa. Gostava muito deles.
Uma
das peculiaridades do Clovis eram a simplicidade e bondade. Ele dividia as
coisas com os outros. Quando lá cheguei para voar nas áreas de banana ele me
deu as melhores e mais fáceis áreas para serem tratadas, ficando com as piores
e assim mesmo quase acabei enroscando em um fio. O susto foi grande,
incrivelmente consegui sair vivo. Num relance passei por baixo raspando nas
bananeiras. Não consegui dormir aquela noite. Não gostei dali e meses depois
fui embora e não voltei nunca mais.
Valeu
a experiência, onde tive três incidentes marcantes. Duas paradas de motor em
plena serra, com um pouso na BR-116 próximo a Jacupiranga-SP entre os carros,
de onde decolamos no fim da tarde, após a troca do motor e outro pouso forçado numa
micro estrada entre os morros, onde bati no barranco e quebrei o nariz. Além
disso, certa ocasião ao decolar carregado para fazer a aplicação, perdi o trem
de pouso esquerdo. Como nós usávamos radio PX Motorola consegui falar com o técnico
agrícola Rubinho. Apliquei o produto e pousei em uma pista improvisada com
muito capim nas laterais, onde me aguardavam. Na final garantida, cortei o motor
e planei até o solo. Toquei suavemente com o trem direito, segurando o avião
até tocar com a asa o capim da lateral esquerda, onde parou sem maiores problemas e sem
danificar a aeronave. No outro dia colocaram outro trem de pouso e continuamos o
trabalho.
Alguns
anos se passaram, as áreas da usina aumentaram, o Cmte. Pitanga que viera de
Paranaguá-PR deixou a empresa e foi para Palotina-PR, voar em uma Cooperativa
que estava engatinhando sua Aviação e
derrepente fiquei sozinho com dois aviões SR-600 para voar, um na aplicação de
herbicida e outro para aplicação de sólidos. A Campanha de Adubação Aérea na
Cana de Açúcar de 1989 foi a maior de todos os tempos na Usina. Pedimos reforço
e a Aeroagricola Caiçara além de mandar mais um piloto para auxiliar-me enviou
outra aeronave Thrush Commander com o Piloto Agrícola Edson Takakura e senão bastasse precisamos do auxilio de
mais uma aeronave, um EMB.IPANEMA para as áreas menores. Entre uns e outros o
Clovis Vezune, que não via a muito tempo, pois estava voando no Vale do Ribeira
pulverizando bananas apareceu por lá, para voar com a gente e ajudar no trampo.
Foi um convívio muito bom. Era também um excepcional Piloto de Trush, apesar de
estar voando só Pawnee não havia perdido a mão.
Realmente
a vida prega muitas peças na gente. Grandes amigos e companheiros daquela época
já partiram, mas não saem das nossas lembranças. Foram dias alegres e felizes
num convívio familiar, com muito trabalho e também com memoráveis momentos de
lazer. Recentemente fiquei sabendo que o PAGR. Edson Takakura havia falecido em
um acidente automobilístico chegando à sua base para prestar serviços de
pulverização na região de Luis Antonio/SP e Pradópolis/SP.
Sr.
Afonso Balsi, funcionário da usina, que conduzia nossa equipe durante os
serviços na Usina São Martinho também já faleceu. O jovem Mecânico de Aviação
Nivaldo, especialista em THRUSH SR-2R 600 HP também partiu para a eternidade.
Há
alguns anos passados encontrei-me com o Clovis Vezone em Itápolis. Ele estava
se recuperando de algumas queimaduras, pois havia se acidentado com um Pawnee
pulverizando bananas no Vale do Ribeira, do qual conseguiu sair após o impacto,
mas dessa vez infelizmente não teve a mesma sorte e não conseguiu.
Noticia triste recebo ágora:
Um avião pulverizador caiu na manhã de quarta-feira/03.OUT.2012
no município de Juquiá, no Vale do Ribeira, região sudeste de São Paulo e o
piloto, que não teria conseguido sair do avião, faleceu no local carbonizado. O
acidente aconteceu por volta das 9h. A aeronave pertencente à Aéro
Agrícola Caiçara – sediada em Santos/SP, que era pilotada por Clovis Vezone,
itapolitano de 67 anos de idade, com mais de 20 anos de experiência na área,
fazia a pulverização de uma plantação de banana no momento do acidente, com a aeronave
Piper Pawnee PA-25/260, prefixo PT-DOX, a qual ficou totalmente destruída pelo
fogo.
De acordo
com informações do Corpo de Bombeiros da cidade de Registro-SP, que foi acionado
para atender a ocorrência, o avião sobrevoava a plantação quando colidiu com
uma rede de alta tensão e pegou fogo, ficando por um tempo, pendurado nos fios.
A aeronave caiu no canteiro lateral da rodovia Régis Bittencourt (BR-116),
próximo ao km 409.
Lamentavelmente perdemos um grande profissional, verdadeiro amigo que deixa saudades eternas no coração daqueles que tiveram a oportunidade de convívio com ele.
Seu sepultamento ocorreu no dia 04/OUT às 15:00 horas na
cidade de Itápolis-SP com a presença de familiares e grande números de amigos
que estiveram no velório, dando a ultima despedida. Não pude comparecer, pois
estava viajando a serviço, mas guardo as boas lembranças do tempo que estivemos
junto e a sua imagem do nosso ultimo
encontro. Que descanse em paz, após cumprir com louvor sua missão aqui na
terra. Tenho certeza que está no céu acima de tudo, lugar onde sempre gostou de
estar...
Muito bonita e justa a homenagem aos fantásticos pilotos agrícolas com sua dedicação e que fazem de sua profissão ainda mais nobres. Meu respeito e admiração. Abraços a todos Prof. Wellington
ResponderExcluirVivi tudo isto meu pai era o administrador Nelson Andrade, e foi lá que aprendi a voar e amar a aviação. saudades de todos que fizeram parte da minha infância e juventude
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